2015 - Saber Fazer em Serralves
Imagens: Serralves;
Depois da última presença do Saber Fazer em Serralves, a propósito das actividades que organizamos para a Festa de Outono, foi-me pedido pelo Serviço Educativo que propusesse um programa relacionado com esta temática a ser desenvolvido ao longo do ano de 2015, na Quinta.
Para quem, como eu, anda há anos a investigar esta temática, ideias e argumentos para um programa deste género não me faltam, ainda para mais quando o local de execução está situado no centro do Porto e vai permitir um contacto com um público muito generalizado - duas grandes vantagens para a disseminação deste tipo de ideias que já tive a possibilidade de comprovar precisamente no evento da Festa de Outono.
Muito resumidamente, propus que a Quinta de Serralves desse início, durante este ano, ao cultivo/criação e processamento de três fibras têxteis nas suas instalações: a lã, o linho e a seda.
O objectivo deste ano será praticamente apenas criar as condições para que estes processos se venham a desenrolar permanente e ciclicamente num local no centro do Porto, tornando-os acessíveis ao público que poderá não só contactar e até participar em todas as fases que envolvem este tipo de trabalho, mas também abordar este tema sob uma perspectiva que se pretende actual e pertinente para os tempos em que vivemos.
Será uma espécie de "ano-zero" que se propõe a lançar sementes para que nos anos seguintes este tipo de prática seja objecto não só de discussão e aprendizagem, mas também de uma investigação contínua dedicada a melhorar e optimizar este tipo de produção de pequena escala que, a meu ver, cada vez é mais importante.
Por aqui, faço intenção de ir partilhando passo-a-passo o trabalho deste ano, que vai ser um grande processo de aprendizagem e descoberta para mim pessoalmente, e que quero ir registando.
O conteúdo integral do programa, que diz respeito a esta proposta, partilho-o abaixo, porque é uma forma de perceberem não só o que vai ser feito, mas também, de uma forma mais extensa, os argumentos que o suportam:
O Serviço Educativo, em estreita relação com a Direção do Parque, encontra-se a desenvolver um plano ambicioso de promoção, divulgação e ampliação do potencial programático e de lazer da Quinta de Serralves. Este projeto contribuirá definitivamente para afirmar a Quinta como um polo da Fundação com identidade própria, capaz de gerar dinâmica, públicos e receitas. Neste sentido, 2015 será o ano dos primeiros trabalhos e ensaios de programação.
SABER FAZER
Neste momento, e especificamente no nosso país, a manufatura é percebida de forma polarizada, pertencendo ou à esfera da grande escala industrial ou ao artesão que perpetua um trabalho sem outro valor que não o patrimonial.
No entanto, desde o artesanal até ao semi-industrial, a manufatura em pequena e média-escala traz consigo um conjunto de especificidades que, embora não lhe permitam substituir a produção industrial, a colocam numa posição distinta e com vantagens competitivas também distintas. As vantagens, essas, são de ordem económica, ambiental e social.
O programa Saber Fazer, desenvolvido com a coordenação da investigadora Alice Bernardo, propõe-se abordar esta temática de forma a tornar a informação acessível, apetecível e experimentável, já que o foco é um público generalista que, em muitos casos, irá entrar em contacto com esta realidade pela primeira vez.
Para o desenvolvimento do tema, é proposto usar as fibras têxteis como mote, já que, além de estarem intimamente ligadas a duas áreas de desenvolvimento estratégico (agricultura e manufatura), sendo também materiais omnipresentes no nosso dia-dia, serão facilmente reconhecidos pelo público em geral, gerando recetividade.
Assim, o desenvolvimento das fibras têxteis em Serralves será usado como mote para diversas atividades a decorrer ao longo do ano, sincronizadas com os ritmos naturais do ciclo das fibras trabalhadas quando necessário.
No ano de 1015 serão criadas as condições, plantadas pela primeira vez as plantas, instalado um módulo de criação de bichos-da-seda e ampliado o rebanho de ovelhas da Fundação. Serão ainda realizados os contactos e parcerias-chave para a captação de know-how para o processamento das fibras. Todo o processo neste 1º ano será acompanhado e registado, em fotografia e papel, editando-se no final do ano um conjunto de dossiers pedagógicos a disponibilizar online gratuitamente sobre os ciclos e suas técnicas de processamento.
É objetivo do Serviço Educativo, após a instalação das condições base em 2015, passar a oferecer regularmente a partir de 2016, dirigidas aos vários públicos, oficinas práticas de experimentação livre orientada por profissionais com vasta experiência nas várias áreas oferecendo ao público um primeiro contacto e a aprendizagem de algumas técnicas de manufatura de pequena escala.

