Uma questão de perspectiva

 

"I eventually broach the ‘craft’ question and see how Daniel sees himself in the context of London’s east end burgeoning of cottage/barge/spare room business. He stops me mid flow and firmly tells me what he does is anti craft, the perception I am given is he views himself as a neo-industrialist, he expresses his anger of those who seem to view what he does as a novelty which has no real context in the world of manufacturing. He puts it perfectly in summary himself;  “It’s the difference between careless mass production and considered mass production.” Then when you look at the end product you can really understand what he is on about. By working on such a smaller scale Daniel is able to produce not just an incredible final product with his attention to detail but also a wide range. It’s not just fashion companies that come calling; his size allows him to produce for private clients looking for their own custom tweed. Daniel launches into a tangent containing speech about the joy of working with such a variety of fantastic designers from all different backgrounds- big boys such as Ralph Lauren work with him and local celebrated designers such as S.E.H. Kelly."

-
The Holborn Mag : LONDON CLOTH COMPANY: DANIEL HARRIS & LONDON’S FIRST MICRO-MILL

Já escrevi sobre o caso do Daniel Harris antes, em 2012, mas é um caso que apetece revisitar porque entretanto o trabalho dele já cresceu e consolidou-se, e é agora um exemplo comprovado do que quis mostrar na altura.

Neste caso, um homem sozinho passa meses a recolher teares e outras máquinas relacionadas para montar uma pequena fábrica que consiga operar com imensa qualidade e rentabilidade. Depois parte para montar um negócio de produção têxtil baseado nestes princípios, focado em abastecer um público que procura produtos de grande valor acrescentado, produzidos localmente e de forma ética. Pelo caminho ainda consegue ir a outros países desenvolvidos para ajudar a colocar maquinaria semelhante em funcionamento, de forma a criar outras micro-tecelagens baseadas nos mesmos princípios.

 
Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

Instituto Monsenhor Airosa - Braga, Portugal / Março 2011

 

Por cá, maquinaria semelhante está parada no Instituto Monsenhor Airosa, que parou de laborar em 2012 (eu visitei-os em 2011). O conjunto inclui uns raros teares jacquard, que eram ainda mais raros quando ainda estavam em pleno funcionamento, há 5 anos atrás. Não sei o que a direcção do IMA planeia fazer com um espólio destes, mas sei que o equipamento é visto como tendo apenas valor "arqueológico-industrial", o que me parece excluir a possibilidade de o reactivar. 
À primeira vista esta tecnologia parece datada, mas na realidade não é bem assim. O avanço da indústria tornou-a aparentemente obsoleta durante umas décadas, mas acabou por colocá-la numa categoria intermédia, que não é bem artesanal nem bem industrial, mas que pode ser imensamente útil. Regra geral, permite produzir melhor e em menor quantidade, sendo rentável por ter um certo nível de automação, e permite que seja explorada por empresas pequenas ou até individuais.

Talvez colocar e manter este tipo de maquinaria em funcionamento não seja tarefa fácil nem barata, mas muito mais difícil e dispendioso que isso é, depois de enviar tudo para a sucata, reconstruir de raiz uma tecnologia que já tivemos e, talvez o mais difícil de tudo, recuperar o conhecimento que lhe estava associado.

Mas para ser justa, por cá já vejo os sinais de mudança quando sei de empresas que compram antigas fiações que estavam destinadas à sucata para poderem produzir em menor quantidade e com mais qualidade ou ouço profissionais da indústria a lamentarem de se terem desfeito de máquinas mais pequenas e especializadas que agora fazem falta. 

Anterior
Anterior

Aquela altura do ano outra vez

Próximo
Próximo

We should probably look at what we're wearing too