Os últimos dias têm sido intensos e dedicados especialmente ao Linho, que com o calor amadureceu rapidamente e ficou pronto para colher.
A variedade que estamos a cultivar, o Linho Galego, tem uma característica que é mais comum nos linhos selvagens e que torna absolutamente obrigatório realizar a colheita no momento certo.

 
Cápsula deiscente, que abre espontaneamente quando amadurece, libertando a semente para o solo. / Dehiscent capsule that opens spontaneously;

Cápsula deiscente, que abre espontaneamente quando amadurece, libertando a semente para o solo. / Dehiscent capsule that opens spontaneously;

 

As suas cápsulas, que contêm as sementes, são deiscentes. Isto quer dizer que, quando amadurecem, abrem espontaneamente libertando a semente. Não é difícil perceber que, se nos atrasarmos uns dias a fazer a colheita, arriscamo-nos a perder uma boa parte da semente. Para quem, como eu, a guarda religiosamente de um ano para o outro para a poder semear e multiplicar, fazer a colheita no dia certo é crucial, ainda mais sabendo que seria muito difícil voltar a arranjar semente de Linho Galego com qualidade.
Quando o linho começa a amarelecer, temos de ficar de olho nas cápsulas. Quando virmos as primeiras abertas, está na hora de colher.
Assim fizemos com o grupo que está a fazer a oficina do linho de longa duração em Famalicão, mas quando o momento chegou, ainda tivemos que aguardar uns dias até termos a possibilidade de juntar toda a gente.
Perdi semente durante estes dias? Sim. 
Deveria ter feito a colheita logo no dia certo? Idealmente, sim, mas estamos aqui para aprender e saber como fazer a colheita, ripar, amarrar os molhos e colocar o linho na água é mais importante.
Este ano o Linho resultou bastante curto. A primavera foi bastante quente e, acima de tudo inconstante. Para terem uma ideia, o cultivo do ano passado terá dado plantas com mais 20cm de altura que neste ano. Aqui está algo que não podemos controlar.

 
Arrancando o Linho, que neste dia já estava um pouco mais amarelo do que o desejado / Harvesting the flax. In this picture it was slightly overdue, as you can see by the color of the capsules.

Arrancando o Linho, que neste dia já estava um pouco mais amarelo do que o desejado.

 

No Linho, a colheita faz-se arrancando a planta, não cortando, de forma a podermos aproveitar toda a extensão da fibra que se encontra no caule. A raiz da planta é aprumada e pouco profunda, pelo que é fácil de arrancar.
Enquanto colhemos, vamos dispondo os molhos no chão, tendo o cuidado de manter as plantas sempre alinhadas (baganhas para um lado, raiz para o outro), para que seja mais fácil pegar em pequenos ramos para ripar. Ajuda não fazer molhos muito grandes, e separá-los dispondo-os em cruz para que as baganhas não se entrelacem, o que pode dificultar o trabalho na altura de pegar em caules para ripar.
O trabalho da colheita não é complexo, mas para que se desenrole rapidamente, temos de ter atenção a pequenos pormenores e, acima de tudo, trabalhar em equipa!

 
O importante no dia da colheita é trabalhar em equipa. / The most imporatnt thing for the harvest is team work.

O importante no dia da colheita é trabalhar em equipa.

Linho ripado, sem cápsulas. / Rippled flax with no capsules.

Linho ripado, sem cápsulas.

 

Ripar consiste simplesmente em separar as baganhas dos caules. Isto faz-se por duas razões: para guardarmos a semente que se encontra dentro das cápsulas para o próximo ano e para evitar que o óleo da semente, ao ir para a água juntamente com os caules, interfira com o processo de maceração. Ou seja, mesmo que não quisessem salvar a semente, a ripagem era obrigatória.
O ripo é a ferramenta que usamos nesta tarefa. Este ano, além do ripo de museu (mas muito funcional), que carrego comigo para as oficinas, tivemos direito a uma versão nova, mais prática, que funcionou na perfeição. 

 
Os molhos de linho, prontos para serem colocados na água, para dar início ao processo de maceração. / The small bunches of flax, ready to be submerged for the retting process.

Os molhos de linho, prontos para serem colocados na água, para dar início ao processo de maceração.

 

Concluída a ripagem, preparamos os molhos de caules para poderem ser colocados na água. Também esta tarefa é simples, mas faço sempre questão de fazer os molhos colocando metade dos caules com a raiz para um lado e metade para o outro, para ficar equilibrado.
Como estamos a fazer todo o cultivo e processamento do Linho no Parque da Devesa, quando chegamos à parte da maceração tivemos de trabalhar com o que esta casa nos dá. Neste caso, escolhemos usar o tanque da Casa do Território. Como não é muito fundo, bastou-nos atar uns paralelos aos molhos, para que não flutuem. 

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