O Ciclo da Seda
Embora não fosse o único sítio a produzir seda em Portugal em tempos passados, neste momento, Freixo de Espada à Cinta tem o único Centro de Artesanato que desenvolve o ciclo da seda integralmente. Portugal nunca teve o foco de produção mais importante desta fibra na Europa, mas não consegui descobrir se, actualmente, ainda se produz seda de modo completamente artesanal em França ou Itália. Actualmente, a seda que é transformada em Portugal é importada maioritariamente do Brasil ou da Turquia, onde se faz a sericultura de forma industrial. No Centro de Artesanato, a Susana que faz de tomar conta do Bicho-da-Seda a sua vida, teve a gentileza de preparar para a ocasião uma demonstração da extracção da seda, que pude observar e fotografar, e também de responder às minhas perguntas todas com grande paciência. Como a Primavera é a altura em que a lagarta se transforma em borboleta, também foi possível ver diferentes estágios de desenvolvimento, sendo que elas não se desenvolvem todas ao mesmo tempo.
1. A CRIAÇÃO DO BICHO DA SEDA E A FORMAÇÃO DO CASULO
Todos os anos são recolhidos das borboletas, que nascem e acasalam, os ovos de que vão nascer as lagartas do ano seguinte.As larvas nascem por volta de Abril e, nessa altura, são depositadas no centro dos tabuleiros onde diariamente são colocadas folhas de amoreira frescas e sem qualquer humidade, para que se alimentem. Demoram cerca de 25 dias até atingirem a idade adulta. Durante estas semanas, todas as condições de humidade e temperatura têm de ser cuidadosamente monitorizadas. Como as lagartas não se desenvolvem todas ao mesmo ritmo, torna-se necessário separá-las por grupos de desenvolvimento para que seja mais fácil detectar a altura em que irão começar a fazer o casulo e também sair do mesmo.Quando a lagarta chega à idade adulta, são colocados em volta dos tabuleiros ramos de arçã para as ajudar a fixarem-se e fazer o casulo. Naturalmente, elas sentem-se atraídas pelos ramos e encontram o seu sítio. Acontece, por vezes, acharem que não têm espaço nos ramos e moverem-se para encontrar outros locais menos convencionais.As lagartas expelem o líquido através das glândulas salivares, que ao ser torcido e ao entrar em contacto com o ar, vai produzir a seda que forma o casulo e a protege durante a metamorfose. O período de metamorfose demora cerca de 15 dias, mas a maior parte das borboletas nunca chegará a nascer, pois isso implicaria o rompimento do casulo e do fio contínuo de seda.Produzir seda de 1ªqualidade implica, invariavelmente, matar as borboletas dentro do casulo. Por isso, usar seda, tal como usar couro, é uma decisão que depende da consciência e sensibilidade de cada um. Saber quando matar a borboleta exige uma observação próxima do desenvolvimento da metamorfose. Geralmente, permite-se que algumas das borboletas nasçam como prova de que o processo está finalizado. Se se tentar efectuar a extracção da seda cedo demais, o casulo transforma-se numa pasta e não é possível desfiar o fio continuamente. Nesta altura, os ramos de arçã com os casulos são colocados no exterior sob sol intenso por alguns dias, o que irá matar a borboleta por choque térmico e deixar a seda pronta para ser extraída na próxima fase.
2. A EXTRACÇÃO DA SEDA
Na fase da extracção, uma tina de cobre com água quente é preparada para desenrolar o fio do casulo. A água tem de estar a uma temperatura de cerca de 90º, sendo que estando demasiado fria não libertará a goma que mantém o fio colado e, se ferver, transformará o casulo numa pasta impossível de desfiar. Uma vassourinha feita de carqueja, ao tocar nos casulos, colhe os fios que irão passar pela fieira e ser enrolados no sarilho. Não se desfia apenas um fio de cada vez, mas sim cerca de vinte, o que quer dizer que vinte casulos fazem apenas um magro fio de seda.
3. ENROLAR, FIAR, DOBAR E LAVAR
Depois de tirar a seda do sarilho, logo após a extracção, esta é colocada na dobadoura e começa aqui um processo contínuo de enrolamento, torção e extensão que transformam 300 magros fios de seda num fio branco e acetinado. A seda de primeira é dobada para 15 pequenos cartões que, por sua vez, vão ser atados juntos e enrolados no rodeleiro (o cilindro de madeira) até ao final. A Susana mantém a mão sempre húmida, o que ajuda os fios a unirem-se, enquanto um ajudante controla o fluxo dos fios a partir dos cartões, garantindo que estão sempre esticados e juntos. Retirado o rodeleiro do cubilho (dispositivo onde encaixa o cilindro de madeira para ser rodado), a seda está pronta a fiar – nesta altura, os 15 fios ainda estão enrolados paralelamente. Para obter um fio resistente é preciso torcê-los – quanto mais torcido e esticado for o fio, mais resistente e sedoso será, elevando a sua qualidade. Com o fio contínuo da seda, o fuso balança e gira tão rápido como um pião. Bem esticada, a seda passa do fuso para a aspa, formando as meadas que irão finalmente ser lavadas e branqueadas. As meadas vão a cozer numa caldeira de água a ferver e sabão durante uma hora. Durante a lavagem e antes da secagem, as meadas são extremamente esticadas por várias vezes (são necessárias duas pessoas), para que não se formem nós provenientes da torção, o que iria deixar o fio manchado. Finalmente branqueada e seca, a seda está pronta para ser tecida.
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