O Pisão de Tabuadela
Ontem foi a minha primeira visita ao Pisão de Tabuadela, e a um pisão propriamente dito.
Conheci o Sr.Francisco, ele próprio um pisoeiro e dono do pisão que herdou do seu pai, que me explicou o funcionamento da máquina e mais umas coisas que não sabia sobre a lã e o burel.
A lã tecida, para fazer um bom burel, deve ter o fio da teia fiado bem torcido, e os fios da trama fiados soltos. Se estiverem demasiado torcidos as fibras ficam presas e não é possível feltrar adequadamente a lã que irá cobrir o burel.
Da mesma maneira, a tecelagem não deve ser muito batida (apertada), para dar espaço à lã para feltrar.
Assim, um bom burel depende não só do tempo despendido pelo pisoeiro no trabalho, mas também da arte da tecedeira para fiar e tecer com o propósito de apisoar.
Para ligar o pisão com os dois malhos em funcionamento, são necessários no mínimo 24Kg de lã tecida.
No gastalho, a lã é mantida constantemente molhada com água quente, que o pisoeiro aquece numa caldeira de cobre (que foi roubada do pisão de Tabuadela), e a lã tem de ser muitas vezes mexida para não feltrar torcida (estragando o pano). Por isso, nos tempos em que a produção de burel era corrente, o pisoeiro ficava a viver no pisão durante 15 dias sem ir a casa.
Normalmente, os 24Kg de lã demoram entre 24 e 36 horas até estarem bem apisoados. O burel era depois posto a secar num campo próximo do pisão e, quando seco, devolvido aos donos que o iriam transformar em capas, mantas e outras peças.
Notável é a vontade explícita do Sr.Francisco em voltar a colocar o pisão em funcionamento, de certeza relacionada com o desejo de preservar o património do pai e de ver o seu trabalho continuado. 
Numa altura em que praticamente todos os que praticam alguma espécie de ofício artesanal acham que não vale a pena investir nelas, uma vontade destas é rara de encontrar e não devia ser desperdiçada.

