As mantas de burel da D.Ilídia

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Antes de ir de férias e enquanto a Casa da Lã estava também encerrada até Setembro, dei um salto a Bucos para visitar a D.Ilídia em sua casa. Foi bom passar uma tarde sem pressas a falar sobre tudo, ela com vontade de me explicar e eu com ainda mais vontade de ouvir e fazer perguntas.
Começamos pela arca onde guarda muitas das suas mantas de lã, umas apisoadas, outras não, todas bonitas para mim.
Da pequena colecção de mantas de burel que possui, mostrou-me algumas típicas da região, em lã de cor natural com franja vermelha ou cor-de-rosa.
A lã para estas mantas vinha de duas tosquias anuais, em vez de uma.
Da primeira tosquia, em Maio, fiava-se a lã para a teia. Como era necessário tecer mantas para vender na conhecida Feira de S.Miguel e no Outono e Inverno que se seguiam, tosquiavam-se novamente as ovelhas no final de Agosto e daqui fiava-se a lã que iria “cobrir” a manta, ou seja a que iria servir de trama. 
Por isto, a lã da segunda tosquia ficou conhecida como a Lã de S.Miguel.
Para uma manta de burel são necessários, aproximadamente 8Kg de lã ludra (a lã suja, logo após a tosquia), que perde metade do seu peso depois de lavada.
A lã destinada ao burel, ao ser fiada, era sempre um pouco mais torcida do que o seria se se destinasse para meias ou para um pano que não fosse apisoado, mas sem exagerar, como me disse a D.Ilídia enquanto me ensinava a fiar.
Desde que se desactivou o último pisão de Bucos que as mantas, enquanto ainda se fizeram, passaram a ser apisoadas em Tabuadela.
Para me mostrar a diferença entre um burel bem apisoado, mais “tapado”, e outro não tão bem apisoado com a trama bem visível, que demonstrava uma certa pressa por parte do pisoeiro em terminar o trabalho, sobrepôs as duas mantas na foto acima.
Lembro-me perfeitamente que enquanto usavam as capuchas com que aparecem nestas fotos que lhes tirei, as Mulheres de Bucos tocavam e avaliavam o burel das capas, rapidamente distinguindo o burel delas do apisoado fora.

 

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