O Mesmo, Mas Diferente: Revisitar, Repensar e Renovar os Ofícios da Lã em Vinhais

A nossa intervenção no projeto “Cultura Para Todos” em Vinhais terminou com uma exposição no Centro Cultural de Vinhais que inauguramos em Agosto passado e que conta a história do trabalho que desenvolvemos ao longo destes quase 2 anos.
Neste projeto não viemos para introduzir mudanças radicais, mas antes para perceber como é que algo que é visto como sendo tradicional na região e que, entretanto se está a extinguir localmente, precisa de ser alterado de forma a que possa voltar a existir e desenvolver-se.
É uma abordagem diferente ao tema, pelo foco na renovação de conhecimento e de tecnologia, ao contrário de histórias de preservação.
É o mesmo, mas diferente.

O projeto, tal como esta exposição, está dividido em três momentos: Revisitar, tendo sido realizada uma recolha exaustiva do património tecido e dos ofícios da Lã em Vinhais e seus atores, que, para além da sua importância patrimonial e papel na memória coletiva, são fundamentais para a produção dos fatos de careto.
Repensar, analisando, reproduzindo e repensando os processos produtivos tendo em vista a transmissão do conhecimento técnico a uma nova geração de artesãos.
Renovar, onde, através de oficinas práticas e do desenvolvimento de materiais de suporte, foram capacitados elementos-chave das comunidades locais, verdadeiros agentes disseminadores deste valioso conhecimento técnico, cuja transmissão poderá assim ser perpetuada para lá deste projeto.

Revisitar

Nos primeiros dias do projeto corremos aldeias, abrimos arcas e ouvimos estórias sobre o património tecido de Vinhais e sobre as artesãs que, ao longo dos tempos, teceram mantas, cobertores e vestuário como as que se podem encontrar nesta sala. 

Muitas das mantas tecidas em Vinhais foram sacrificadas para dar corpo a fatos de careto, que hoje são muito procurados. O declínio da tecelagem em Vinhais e consequente falta de peças tecidas contrasta com o aumento da procura dos fatos, para os quais deixou de haver matéria-prima.
Apesar dos utensílios estarem já guardados há muitos anos, a Lã e seus ofícios continuam presentes na memória da comunidade.
Quisemos também reconhecer a importância desta memória e assegurar que a renovação destes ofícios não é uma ruptura com o passado, mas antes uma vontade de continuação e evolução depois de um longo interregno.

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Exposição “O Mesmo, Mas Diferente: Revisitar, Repensar e Renovar os Ofícios da Lã em Vinhais”

A Lã tem uma posição central no projeto, tendo sido assim escolhida não só pela sua abundância, mas também pela sua importância cultural e potencial de valorização económica.
Não podemos falar de Lã sem falar das raças autóctones de ovinos da região de Trás-os-Montes, portanto foi na matéria-prima vinda especificamente destes animais que alicerçamos todo o trabalho desenvolvido.
Na região de Trás-os-Montes existem cinco raças de ovinos autóctones, todas de caráter rústico e muito bem adaptadas às condições da região.
Grande parte destas raças sofreu uma drástica redução dos seus efetivos na segunda metade do século XX,  tendo algumas chegado perto da extinção. As associações de criadores têm vindo, desde então, a desenvolver um valioso trabalho de preservação e melhoramento.
As lãs transmontanas atravessam um momento difícil de desvalorização, tornando-se por isso urgente o trabalho de recuperação e divulgação desta matéria-prima, cuja produção tira partido dos recursos locais e apoia a conservação da diversidade genética de raças únicas no mundo.

Churra Galega Bragançana Branca

Churra Galega Mirandesa

Churra Badana

Churra Galega Bragançana Preta

Novos tecidos produzidos a partir do levantamento e desenhos técnicos das tipologias de tecelagem de Vinhais

Repensar

Após a recolha do património tecido de Vinhais, foi feita uma análise e reflexão sobre o valioso material que nos chegou às mãos e a forma como este foi produzido.
Aqui reproduz-se o resultado desta reflexão, através da qual repensamos os processos produtivos e criamos formas de comunicar o conhecimento, permitindo assim a reprodução futura por uma nova geração.
Depois de identificadas as tipologias de tecidos mais representativas da região, estas foram analisadas e as suas fichas técnicas produzidas. Esta tradução para a linguagem universal da tecelagem tornou possível a reprodução destes tecidos, possibilitando o seu renascimento. O resultado desta fase foi a produção de um Manual de Tipologias de Tecelagem de Vinhais.

Tipologias de Tecelagem de Vinhais na exposição “O Mesmo, Mas Diferente: Revisitar, Repensar e Renovar os Ofícios da Lã em Vinhais”

Amostras das lãs das 5 raças autóctones de Trás-os-Montes processadas

Apesar da conhecida importância cultural da lã na região, vivemos atualmente uma fase de desconhecimento das características desta matéria-prima local, bem como dos processos para a processar de forma produtiva em pequena escala.

Nesta fase produziram-se amostras das lãs provenientes das 5 raças de ovinos autóctones de Trás-os-Montes, de forma a dar a conhecer as suas características e assim elevar o seu potencial.

Amostras processadas da raça Churra Galega Bragançana

Amostras processadas da raça Churra da Terra Quente

Especificamente para este projeto, também produzimos um manual do Trabalho da Lã, criado para servir de apoio pedagógico aos formandos, após as formações, de forma a que o possam utilizar como referência de informação nas suas atividades futuras junto da comunidade.

Exposição “O Mesmo, Mas Diferente: Revisitar, Repensar e Renovar os Ofícios da Lã em Vinhais”

Renovar

Depois de se revisitar e repensar o património tecido de Vinhais e o potencial da lã das raças autóctones, e tomando como base o trabalho aqui desenvolvido, tiveram lugar as oficinas práticas e criativas.

 Estas oficinas tiveram como objetivo capacitar agentes disseminadores locais que, por virtude das funções que desempenham na comunidade, estão em contacto direto com o público-alvo do Projeto “Cultura Para Todos”: crianças e jovens, idosos e desempregados de longa duração. 
É a capacitação de elementos-chave da comunidade local que permite que o conhecimento fique na região, garantindo um impacto do projeto mesmo depois deste ter terminado. As formações tiveram em vista não só a renovação de conhecimento, mas também disseminar estes conhecimentos junto das novas gerações locais.

Trabalhos produzidos pelos formandos na formação de Tecelagem, onde se exploraram as tipologias de tecelagem tradicionais de Vinhais

Terminadas as formações, foram pensadas e desenvolvidas múltiplas atividades para o público-alvo do projeto, orientadas autonomamente pelos formandos.