Em busca da espadeladora perdida
No final de Junho, lá fui eu Minho acima, na esperança de ainda ver uma daquelas espadeladoras mecânicas em funcionamento.
Como não podemos ganhar sempre, e apesar da máquina ainda lá estar e funcionar, a D.Rosa há já um par de anos que não cultiva o linho, e portanto não precisa de ter a espadeladora ligada - está, tal como a tem o Eng. Silva, guardada na arrecadação. O último linho espadelou-o na totalidade no momento, e agora vai fiando-o aos poucos, quando necessário.
Ainda assim, confirmei com ela que esta máquina, com as especificações com que foi construída, é totalmente inútil no que diz respeito a espadelar o linho de uma variedade como o galego, não só porque este é curto demais para entrar na máquina, mas também porque a fibra ficaria destruída com o excesso de força a que seria sujeita. Desde que recebeu a espadeladora que a D.Rosa cultiva uma variante de linho importada, que ela não me soube indicar qual, mas que cresce cerca de 1,20m de altura e é de caule muito mais espesso.
Posta a questão da espadeladora de lado, passamos à fiação: mostrou-me a roda de fiar eléctrica que um dos filhos lhe construiu lá por casa. Se encontrar rodas de fiar eléctricas em Portugal hoje em dia já não é fácil, encontrá-las nos anos 90, feitas em casa, em pleno Minho rural, ainda menos. Só por isso, já acho a situação excepcional.
Perguntei então à D.Rosa se fiava um bocadinho para eu ver. Passados uns bons minutos de fiação em silêncio, lá lhe disse:
- Pronto, D.Rosa, se quiser já pode parar...
- Ah, esqueci-me! É que gosto tanto de fiar que me esqueço de parar. Gosto de fiar tudo, sabe? Agora ando a ver se arranjo lã de ovelhas negras.
- Se quiser posso arranjar-lhe um tanto.
- Ah pode? Tem? E olhe, e daquela lã muito fofinha, tipo merino? Também arranja?
- Também posso arranjar, é uma questão de combinarmos.
- E olhe, e daquilo daquele animal que parece um camelo pequeno... não sei como se chama...
- camelo pequeno... Será uma Alpaca?
- Sim, isso, vi no outro dia na televisão e gostava de experimentar.
- eu não tenho, mas sei onde pode encontrar cá em Portugal.
- E seda, já experimentou seda? Vi umas senhoras uma vez numa feira, ali em Vila do Conde e achei aquilo muito bonito... Do que eu gosto é mesmo de fiar! De fiar tudo!

