Os conselhos do Eng. Flávio Martins para o cultivo do linho
"Este livrinho tem por fim dar aos agricultores da nossa nação os conhecimentos científicos necessários para que realizem conscientemente a cultura do linho.
É um livro para agricultores, muito embora pareça que usando demasiadamente a linguagem técnica e científica se torne aborrecido na sua leitura e compreensão. Preferimos assim a usar quaisquer outros processos, que procurando demasiadamente a beleza da forma e simplicidade de ideias, acabam não raro, por deturpar ou mistificar a realidade."
Martins, Flávio. 1944. O Linho para Fibra - Sua Cultura. Senhora da Hora: Edição da Empresa Fabril do Norte.
Haverão livros mais extensos sobre o assunto, mas considero estes escritos pelo Eng.Flávio Martins, nos anos 40, uma preciosidade porque tinham uma missão muito clara: assegurar que os agricultores que cultivavam o linho usado pela EFANOR possuíam toda a informação necessária para que a produção fosse de qualidade. Para que isso acontecesse, e como nos diz na introdução que citei acima, a informação tinha de ser precisa, sem simplificações condescendentes. Afinal, havia uma indústria dependente destes pequenos agricultores, e criar de raiz informação como esta era essencial para garantir a qualidade da matéria-prima que chegava às unidades de maceração* para a obtenção de fibra.
Estes dois livrinhos, mesmo limitando-se à fase do cultivo, são bastante pormenorizados e foram os únicos onde encontrei instruções precisas para todo esta parte do processo, desde a preparação do terreno, passando pela época exacta de sementeira, quantidade de semente a usar, manutenção da cultura e, por fim, a colheita com vista à entrega do material às unidades industriais da EFANOR. Mais importante do que dar apenas instruções, o Eng. Flávio Martins explica também os porquês técnicos por trás destes conselhos, desmistificando-os muito.
Mesmo o foco original tendo sido o cultivo com vista ao posterior processamento industrial, a informação contida continua muito relevante actualmente, para quem quer cultivar linho para fibra, em pequena ou média escala.
A produção destes livros aconteceu porque a Empresa Fabril do Norte, a partir dos anos 40 tentou integrar a produção de linho com a sua transformação. Não tendo cultivo próprio, garantia a produção do linho através de contratos com agricultores, que entregavam a planta em palha à empresa, que depois tratava da maceração do linho e do processamento da fibra aí em diante. Ao contrário do que se faz num processo mais artesanal, aqui o linho era colocado a secar em maços logo a seguir à colheita, e só depois era macerado nos tanques das unidades industriais.
Só a jeito de nota, a EFANOR foi a última unidade industrial a processar linho cultivado em Portugal, até 1979.
No final dos anos 70, o Estado subsidiava então a cultura do linho nacional com 10.000$/ha, mas a então CEE subsidiava a mesma cultura nos seus países membros com 17.000$/ha. Com apoios mais baixos, e custos de produção mais elevados (por aqui, a cultura era feita em minifúndio e não havia mecanização dos processos), deixou de ser possível competir: em 1979, foram cultivados os últimos 14ha e foi encerrada a última unidade de maceração, a de Soure.
A EFANOR continuou ainda a fiar linho, mas a partir de ramas importadas.
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* A maceração é o processo através do qual as fibras do linho são separadas do caule, para poderem ser extraídas, sendo geralmente, mas não sempre, efectuada através de submersão na água, que em ambiente industrial é realizada em tanques com condições controladas.

