Aprender a desenrolar casulos com a D.Teresa Frade
No ano passado achei-me com uma caixa cheia de casulos resultantes da nossa criação sem fazer ideia de como é que havia de extrair o fio de seda.
Nos dias que correm, em Portugal, não é propriamente fácil encontrar quem nos possa ensinar a fazer algo tão específico. A pequena unidade de produção que existia em Freixo de Espada-à-Cinta já fechou há muito e, apesar de ainda existir quem o saiba fazer por lá, os contactos que fizemos não surtiram efeito e eu já tenho experiência suficiente para saber que o conhecimento só é bem passado à geração seguinte quando há gosto em fazê-lo.
Ao mencionar esta dificuldade à Isabel e à Guida, elas lembraram-se de um certo filme em que a protagonista, que produzia seda na zona de Castelo Branco, falava com as lagartinhas com muito carinho.
Esse filme era o documentário realizado pela Catarina Alves Costa em 2003, chamado "A Seda é um Mistério", e a protagonista é a D.Teresa Frade, que até há bem pouco tempo produzia não só a sua seda, mas também o seu linho ("O Linho é um Sonho" é o outro filme da Catarina com a D.Teresa).
Depois de uma breve pesquisa, consegui entrar em contacto com um grupo de professoras da Escola Superior de Educação de Castelo Branco, que têm levado para a frente actividades e investigações relacionadas com a Seda (entre outras) no Centro Ciência, Tradição & Cultura e que rapidamente me marcaram um encontro com a D.Teresa para que eu pudesse aprender a desenrolar os benditos casulos.
Sem as professoras Helena Tomás, Paula Péres e Margarida Afonso, nada feito!
Aprender a desenrolar casulos é algo que eu já queria aprender há muito tempo, desde que vi a Susana a fazê-lo em Freixo. Não é preciso explicar porquê, é simplesmente fascinante!
Quando falei com a D.Teresa ao telefone, para lhe explicar que andava à procura de alguém que me ensinasse a desenrolar os casulos, ela limitou-se a responder: "Então, ensino-lhe eu!". Perfeito.
Por isso, em Outubro, lá fui a Castelo Branco conhecer a D.Teresa e aprender um pouco com ela.
O método é semelhante ao que já tinha observado, mas desta vez pude aprender mais sobre os pormenores que fazem toda a diferença para que o trabalho corra bem.
Não é difícil desenrolar os casulos, mas é difícil desenrolar bem, controlando a espessura do fio que estamos a enrolar no sarilho (que é composto por vários casulos), sem que fique demasiado grosso nem parta.
O processo tenho de o descrever num post à parte, porque tem que se lhe diga e este já vai longo.
Hoje queria falar da D.Teresa porque uma das coisas que sempre quis fazer foi tornar acessível a informação que está encerrada na experiência destes artesãos que vou encontrando, principalmente de ofícios que, continuando a ser relevantes, são cada vez mais difíceis de encontrar.
Apesar da D.Teresa não gostar nada de viajar, conseguimos convencê-la a vir ao Porto no próximo dia 11 de Junho, fazer demonstrações (da parte da manhã) e dar uma excepcional Oficina Prática de Extração e Lavagem de Seda (da parte da tarde), com lotação limitada a 10 pessoas, que vai decorrer na Quinta de Serralves.
Na verdade, todo o dia será dedicado à produção de seda, com bichos-da-seda, ferramentas, material pedagógico, bem como imensos casulos para fazer experiências e aprender sobre a produção de seda, mas os ensinamentos da D.Teresa são um ponto alto!
A descrição da oficina está aqui, bem como a informação necessária para fazer a inscrição, que em breve também estará actualizada no site de Serralves.

