A dupla tosquia
Uma coisa que me tinha vindo a confundir até há pouco tempo era a dupla tosquia anual, como descrevi aqui.
O velo, para ser cortado e usado para lã tem de ter um comprimento mínimo, por isso ainda não tinha percebido como é que se tosquiavam duas vezes ovelhas como as bordaleiras, para obter a tal lã de S.Miguel.
E a verdade é que não se tosquiavam. A dupla tosquia só se fazia nos rebanhos de ovelhas bravas, que são as Churras do Minho nesta região, e que era a raça mais comum. O velo destas é comprido e, entre Maio e Setembro cresce o suficiente para ser de novo tosquiado, ou “estoquiado” como dizem por aqui.
A lã tosquiada duas vezes não só era útil porque permitia fazer o trabalho de fiar a teia e a trama em duas ocasiões separadas, como era mais macia por não ter estado tanto tempo exposta aos elementos - era importante obter a lã mais macia porque a ovelha brava tem naturalmente uma lã mais áspera e rústica.
Outra razão para tosquiar as ovelhas bravas no final do Verão era para evitar que o pêlo acumulasse humidade pela altura do Outono e do Inverno, o que o poderia fazer apodrecer ou ganhar doenças. Pêlo curto, pêlo seco.
Actualmente, com as ovelhas meirinhas, que correspondem a várias raças com velo mais macio que as bravas, a tosquia faz-se apenas uma vez por ano em Maio, e quem ainda trabalha a lã guarda-a durante todo o ano para a ir transformando.

