Foi uma festa
Fotografias de Rosário Albuquerque e Epifânia Oliveira;
E foi assim em Serralves no domingo passado.
Penso que para todos nós, tanto na parte têxtil como na cestaria, foi a primeira vez que tivemos de lidar com uma enchente tão grande de pessoas.
A actividade da cestaria, orientada pela Rosa e pelo Manuel, foi um absoluto sucesso, sem dúvida resultante da excepcional capacidade deles para receberem bem toda a gente, apesar do intenso trabalho que foi. Cada pessoa tinha de começar e terminar um pequeno cesto construído em vime, e foi maravilhoso ver tanta gente a sair com peças lindíssimas. Pormenor diferenciador foi o da actividade ser executada com as mesmas ferramentas e materiais com que um cesto deste tipo é produzido no dia-a-dia por eles: o vime, as formas de madeira, as tesouras, tudo. O objectivo era criar um primeiro contacto com esta actividade da forma como ela é desenvolvida profissionalmente, mas num contexto relaxado, e acho que conseguimos.
Na parte têxtil a enchente foi idêntica, com a atenção a ser atraída imediatamente para as rodas de fiar da Tita e da Rosário e, em seguida, para os teares da Guida.
Na brincadeira, disse a Rosário que batemos o recorde de concentração de rodas de fiar em Portugal - sete pelas minhas contas. Desconfio que também devemos ter batido o recorde de gente que aprendeu a fiar e a tecer num espaço de 9 horas.
Entre algumas pessoas que experimentavam um pouco e continuavam, tivemos diversos casos de meninos e adultos que ficaram tocados pelo trabalho e se dedicaram de facto a aprender um pouco. Tivemos um menino de 11 anos que esteve a manhã toda a aprender a fiar de fuso, passou para a roda e no final do dia voltou porque queria muito levar um fuso com ele para casa. Tivemos uma menina de 9 anos que já sabia tricotar e coser, mas queria aprender a fiar para fazer umas meias. Tivemos quem tivesse aparecido para aperfeiçoar a técnica e passar um bom tempo a experimentar todo o equipamento disponível. Tivemos uma senhora austríaca que fia e tece há décadas e que ficou emocionada por encontrar um aparato destes sem contar. Tivemos muita gente que veio só para ver e ficou a aprender.
Pessoalmente, e apesar do que já sei, fiquei surpreendida por ver a mudança física nas pessoas quando abrandavam e se concentravam no trabalho que tinham à frente, fosse o de fiar, tecer, ou fazer um cesto. E, apesar dos objectivos que já tínhamos, não deixou de me surpreender o interesse que tudo despertou. Foi bom.

