Os ovos do bicho-da-seda
A minha ideia para encontrar quem cedesse os primeiros ovos do bicho-da-seda era recorrer ao Centro de Artesanato de Freixo de Espada à Cinta. Foi onde, em 2011, consegui observar e perceber o Ciclo da Seda todo, do ovo ao fio. Mas acontece que nunca mais lá fui desde essa altura, e acabei por só saber este ano que o Centro foi encerrado em meados de 2012.
Ao que parece, o ciclo continua a ser perpetuado por uma senhora que ficou encarregue pelo poder local de o fazer, mas deixou de estar aberto ao público, e como praticamente tudo o que está sob o poder institucional em Portugal se torna opaco e pouco ágil, não houve contacto que fizéssemos que obtivesse resposta em tempo útil. Virou-se a página e procurou-se outra via.
À custa deste falhanço, aprendi que na Casa da Seda, que faz parte do Centro de Ciência Viva de Bragança, se faz criação do bicho-da-seda, embora não processem a fibra. Com um simples telefonema e um singelo pedido, até enviam os ovos até por correio. A finalidade da criação na Casa da Seda é pedagógica, e portanto é feita para efeitos de demonstração, mas também disseminam o bicho-da-seda por quem se interessa, sendo que normalmente são as escolas que pedem. Como a criação é feita pelas próprias técnicas da Casa da Seda, também foram elas uma fonte fiável e extremamente simpática no que diz respeito a esclarecer todas as dúvidas que tínhamos inicialmente, próprias de quem ainda não tem experiência nenhuma.
Estes ovos, naturalmente, foram postos no ano passado. Para ficarem conservados até ao ano seguinte, foram simplesmente guardados dentro de um envelope de papel, num sítio fresco e seco - normalmente ficam no armazém do Centro de Ciência Viva. Só quando as folhas das amoreiras começam a despontar, no início da Primavera, é que os ovos são retirados do armazenamento, para que a eclosão aconteça apenas quando já há alimento disponível.
Quando os fomos buscar ainda estávamos no início de Março e, por isso, nada de folhas nas amoreiras negras de Serralves. Ficaram então também guardados à espera da altura certa.
Nas imagens vemos ovos de cor castanha e uns poucos de tom amarelo. Os amarelos são os ovos que não chegaram a ser fertilizados e assim só contamos com os mais escuros para eclodirem.
Eu sei que há ainda imensas pessoas por aí que fazem a criação do bicho-da-seda por curiosidade, e arranjar a "semente" não seria tão difícil assim, já que cada borboleta põe entre 200 e 500 ovos, mas acho óptimo que haja uma instituição que faça da actividade uma coisa corrente e acessível a qualquer um, até à distância.
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[11.03.2015 / Criação do Bicho-da-Seda para o Saber Fazer em Serralves ]

